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Mau caminho que sabe Bem
Quando eu era mais nova, havia uma altura do ano em que me sentia triste.
Este fenómeno acontecia entre janeiro e fevereiro, na época dos exames da faculdade. Eram os meses em que mal saía de casa: não tinha aulas, as atividades de Praxe também interrompiam, e o meu namorado e os meus amigos estavam colados aos livros. Mas, como eu nunca fui de estudar muito, o tempo real de estudo era ínfimo comparado com o tempo passado a pensar noutras coisas e a procrastinar.
A minha mãe dizia-me que eu me sentia triste porque tinha demasiado tempo livre e pensava muito. Que quando temos muitas coisas para fazer, não temos tempo para nos sentirmos tristes.
A minha mãe estava errada. Hoje vivo uma vida muito ocupada e continuo a sentir-me triste de vez em quando. Descobri que não é preciso termos demasiado tempo livre: há sempre tempo para estar triste, mesmo quando não há tempo para mais nada.
Também descobri que tenho vergonha de mostrar tristeza.
Nós, os jovens adultos, gostamos de pessoas felizes. De sorrisos confiantes, de orelha a orelha. De gargalhadas estridentes, de fotografias no facebook, na praia, rodeados de amigos; de hastags que referem que amamos o trabalho, o casamento, a família e o mundo cor-de-rosa no geral.
Pelas pessoas tristes, sentimos pena. Queremos que se afastem. A sua presença causa-nos desconforto.
Sim, eu prefiro sorrir, empinar o rabo, passar a mão pelo cabelo e olhar as pessoas de lado porque, aparentemente, transpiro auto estima, do que admitir que estou triste.
Também prefiro a Mariana de olhos arregalados e sentido de humor apurado do que a Mariana que chora. Sou uma pessoa de choro demasiado fácil e isso leva-me a crer que a maioria das pessoas que me conhece mal e me vê chorar, me acha fraca.
É que chorar seria bom se pudéssemos fazê-lo sozinhos no nosso quarto, sempre acompanhados de quem nos ama ou se as lágrimas fossem invisíveis. Sendo bem visíveis, sobretudo para quem fica com os olhos vermelhos e muito brilhantes (não vou falar do ranho, que isto é um blog sério), se as sentimos a correr pelas bochechas, contra a nossa vontade, num ambiente em que toda a gente está feliz, somos o foco das atenções.
E o alívio em deitar tudo cá para fora sob a forma de água salgada transforma-se em constrangimento por destoarmos do ambiente festivo.
Por fim, cheguei à conclusão que estar triste me faz sentir culpada. Tendo uma vida privilegiada em comparação com a de muitas pessoas, tenho perfeita noção de que me deixo afetar por episódios que, racionalmente, sei serem irrelevantes.
Os meus problemas são insignificantes mas têm o tamanho do mundo.
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