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Os Gunas da Areosa

por MPS, em 16.07.14

Os Gunas da Areosa (para quem não compreende o conceito, um “guna” é um “mitra”, em lisboeta, e a Areosa é uma zona do Porto) são um grupo de adolescentes entre os 12 e os 17 anos que, alegadamente, assaltam os estudantes no polo da Asprela, entre a Faculdade de Engenharia e o Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto.

 

Perante as sucessivas queixas por parte das vítimas, um grupo de rapazes da FEUP decidiu criar uma página de facebook com o objetivo de denunciar cada um dos Gunas da Areosa. Fá-lo através de fotografias e vídeos em que identificam e humilham as crianças, descrevendo pormenorizadamente os assaltos e evidenciando determinados aspetos da sua imagem com o propósito, bem conseguido, de os ridicularizar. Chegam mesmo a tirar fotografias, discretamente, quando os encontram em locais públicos, associando-as a uma mensagem subentendida, “estou de olho em ti!”, numa autêntica missão de espionagem de fazer inveja aos filmes de Hollywood.

Em junho, os Gunas ameaçaram ““arrancar cabelos e cortar dedos até dizerem quem são os gajos que andam a fazer os facebook’s”, segundo o JN. Já eu, gostei muito da ideia dos estudantes da FEUP. Porque quem me conhece sabe que eu aprecio futuros engenheiros (no geral) e engenheiros que dedicam parte do seu tempo a criar humor interventivo (em particular). Com vídeos manipulados e obras de arte de Photoshop, a página conta, neste momento, 39.067 gostos.

 

O que eu não gosto mesmo nada é de sentir medo ao andar no Porto. E sinto.

Porque, perante todas as notícias divulgadas, agora quando vou estudar para a FEUP, à noite, sinto-me insegura. Não gosto de percorrer aquela zona a pé, porque eu sou lingrinhas e inocente, e eles têm menos 7 ou 8 anos que eu mas, diz-se por aí, têm facas.

 

Há quem diga que roubam porque vivem em más condições, coitadinhos, são pobrezinhos. Ora bem, tenho uma notícia para vos dar (deixem-me só modificar as definições dos comentários ao blog, para censurar os insultos todos que vou receber depois disto… pronto, já está):

No Porto só passa fome quem quer.

Eu sei, porque faço voluntariado há mais de um ano, e vos garanto que há sempre comida para toda a gente. Quem realmente precisa deve informar-se sobre onde adquirir uma refeição quente todos os dias; nunca falta alimento e, muitas vezes, sobra. E o mesmo acontece com a roupa. Os portuenses mais carenciados pedem-nos roupa e nós damos. Vemos o que falta e prontificamo-nos a arranjar um casaco ou uns sapatos para a semana seguinte.

Por isso, sim, os miúdos podem não viver num duplex na foz, mas não passam necessidades nem necessitam da roupa de marca que roubam. E são espertos: publicam fotografias nas redes sociais com casacos e camisolas roubados, para que possamos ter a certeza dos culpados.

 

Outro aspeto que me tira do sério é que a maioria deles não sabe escrever. Escrevem “foi” quando pretendem referir-se à primeira pessoa do pretérito perfeito, “sosinho” em vez de “sozinho”, “cumigo”, “complice” e não “cúmplice”, e acentos, nem vê-los. Eu sou de Letras. Fico nervosa com estas coisas. Prefiro que passem uma semana comigo a fazer ditados e a reescrever cem vezes cada palavra errada do que dar-lhes um enxerto de porrada.

 

Vou seguindo religiosamente a página de facebook dos “Gunas da Areosa” (https://www.facebook.com/GunasdaAreosa), mas continuo sem perceber o que se passa com estes miúdos. Aparentemente, alguns lá atinaram, perante toda esta “pressão social”. Outros foram mesmo detidos pelas autoridades policiais responsáveis.

Mas quem souber mais do que eu, por favor, partilhe comigo a informação!

publicado às 14:14


2 comentários

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De Anónimo a 05.08.2014 às 10:50

Compreendo o que diz quando diz que só passa fome quem quer. Mas seria minimalista pensar que o problema é só esse, ou que apenas se resolve assim. Várias situações são possíveis: desemprego, exclusão social, famílias destruturadas, frustrações. Porque dar um casaco e comida, não resolve qualquer destes problemas.
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De Anónimo a 05.08.2014 às 11:20

Mais digo: não concordo. Não é a ridicularizar as pessoas que se vai melhorar um problema.
Um delinquente, embora o seja, é uma pessoa como tantas outras. O propósito de uma intervenção, nestas situações, deve ser no sentido de erradicar o problema e melhorar a vida em sociedade, não o oposto, não deve ser repelir valores fundamentais e a dignidade humana.
Temos de prestar atenção aos criminosos por tendência. Não podemos descontextualizar um problema, sob pena de não o conseguirmos resolver.
Não se trata de os defender, trata-se de resolver o problema.
Um simples exemplo: um aluno pode levar uma faca para a universidade. Podemos prendê-lo e/ou ridiculariza-lo. Mas isso não resolverá o problema, porque quando a humilhação terminar, (e estou certa que se pode afirmar que a humilhação apenas potenciaria estas e piores atitudes, porque as emoções comandarão as suas ações), ou quando saírem da prisão, irão praticar os mesmos comportamentos, e são as retaliações que se devem tentar atenuar.

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