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Eu acreditava que aos 23 anos iria usar maquiagem todos os dias, e aplicar cremes ao acordar para manter a pele saudável, e nunca sair de casa com sapatilhas calçadas e swetshirt larga e masculina e, afinal, cá estamos nós, sem cremes, sem cuidado com a roupa, e a usar maquiagem – e mal aplicada– só às sextas à noite em discotecas ou quando os eventos profissionais o obrigam. Cresci e continuo meia maria rapaz por pura preguiça.

 

 

Gostava de descascar o verniz das unhas quando estou chateada mas, para isso, era preciso que me desse ao trabalho de usar verniz, uma vez que fosse. Olho descontente para as minhas mãos mal tratadas e admito a mim própria que sou fútil, e que essa futilidade ainda é mais evidente quando te explico porque é que, afinal de contas, estou irritada.

 

- Não percebes. Ela estava lá, e era perfeita, e eu não estava a contar. Eu achava que estava mesmo gira, mesmo sexy. Mas ela era vinte vezes melhor. Usava sapatos altos. Saltos de gala, porra. Ninguém anda assim no Porto! Eu nunca conseguiria. Já de botas tenho dificuldade, quanto mais de sapatos. Mas ela usava-os na perfeição. E o vestido era mais curto que o meu – mais perna à mostra, portanto. E mais maquiagem. Parecia um upgrade da Mariana. E toda a gente a elogiou. Parece que cozinha muito bem.– e descrevi-te, uma por uma, as camadas da porcaria do bolo perfeito, do vestido perfeito, da maquiagem perfeita e da merda dos saltos altos que sobrevivem no Porto, não sei bem como.

 

Sorriste mais uma vez, mas achaste que devias atirar mais uma acha para esta fogueira gigante que são os meus ciúmes.

- Ui. Ela sabe cozinhar? Então é uma namorada muito melhor que tu. Tu chamas “molho de tomate” à polpa de tomate que vem em frascos e que despejas atabalhoadamente em cima da massa – sem cebola, sem condimentos, sem mais nada.

Apetece-me bater-te. Mas tens razão. Suspiro, apenas, resignada.

 

- Mas gostas dele? – perguntas.

- Não.

E é aí que os teus olhos se iluminam, que reparo nas tuas pestanas enormes, um bocadinho femininas, apesar de eu saber de cor que és um homem com H grande.

- Então porque é que tens ciúmes?

Encolho os ombros. Não te sei responder.

- “Já não quero o meu brinquedo mas, se alguém brincar com ele, volto a querer? Não o quero, mas mais ninguém o pode querer”? – insistes.

Não sei o que te devo responder. Voltas a olhar-me surpreendido. Até me senti incomodada!

- Para. Porque é que estás a olhar para mim assim?

E tu és mesmo sincero, quando me dizes:

- Nunca hei-de entender a maneira de ser das gajas.

publicado às 00:24


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