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Amílcar e os Cães

por MPS, em 18.08.14

Vamos chamar à pessoa A, Amílcar. A, de Amílcar, parece-me bem.

 

De certeza que também conhecem um Amílcar. Ele tem um sério problema no que toca a relações: não é capaz de estar sozinho. Não estamos a falar de alguém que aprecia manter relações sexuais com todo o ser humano do sexo oposto que respira, não; o Amílcar gosta de relações, apesar de não lhes chamar esse nome. Gosta de ter uma mulher sempre à sua espera, segura. Para mimos, beijos, sexo e um pouco de conversa, quando calha, mas, sobretudo, para ter a certeza que não está sozinho.

 

Têm um animal de estimação? Às vezes passam dias sem lhe dar atenção, mas sabem que, quando chegarem a casa, ele está lá à vossa espera, de cauda a abanar para vos receber com carinho? O Amílcar gosta de ter à sua espera, em vez de um cão, uma mulher; no fundo é quase a mesma coisa: menos peluda, à partida, mas as lambidelas mantém-se.

 

O Amílcar conheceu a mulher B, a Beatriz, numa festa de um amigo. Alta, magra, de olhos grandes e verdes, e corpo de modelo. Como esse era um dos raros momentos da sua vida em que não namorava, achou que seria perfeito iniciar uma relação com ela. Afinal, era bonita, se os vissem juntos, passava uma boa imagem.

Como faz sempre que se aventura numa nova relação, decidiu pôr os pontos nos Is. A Beatriz não pode aproximar-se / falar / tocar ou respirar a menos de 20 cm de outro homem. Não pode aceitar bebidas de ninguém, nem comentar publicações de amigos nas redes sociais, e ai dela que fique mais de 10 minutos sem lhe responder a uma mensagem! Isso não se faz.

O Amílcar pode fazê-lo, claro, mas isso é porque tem entre as pernas o que a Beatriz não tem (ao nível físico, porque, no sentido metafórico, não os tem, de todo). Além disso, é preferível evitar fotografias de ambos demasiado próximos no facebook. Porque o Amílcar gosta de ter as portas abertas, para o caso de surgir um pôr-do-sol no horizonte. No fundo, a Beatriz namora com o Amílcar, mas o Amílcar não namora com a Beatriz. Oficialmente, claro, são muito felizes.

 

É que ele gosta de olhar para outros cães. Para outras mulheres, desculpem, enganei-me. Volta e meia aparece uma muito bonita, a C, chamemos-lhe Carla, e o Amílcar fica fascinado pela sua aparência e tenta seduzi-la. Fazem sexo (e pouco mais, que o Amílcar não é muito dado a mimos, é sexo bruto, apenas), ele jura que não tem namorada mas, pelo sim pelo não, é melhor não assumir o que se passou, é um segredo só deles!

Claro que o mesmo segredo é partilhado com a Diana, porque ela também é muito bonita, desta vez é de outra raça, é loira e não morena e, enfim, um homem tem de experimentar de tudo! Diz à Diana que não tem namorada, que ai dele meter-se em relações, é um homem livre e odeia compromissos mas, pelo sim pelo não, não vamos contar nada a ninguém!

 

Quando bate a saudade, ou não há mais ninguém disponível, o Amílcar telefona ao cão oficial. Desculpem, à namorada. E a Beatriz tem a certeza que ele só tem olhos para ela, por isso, é vê-la de língua de fora a saltar-lhe para o colo, sempre que ele quer.

 

Au, au.

publicado às 23:54

Um dos Motivos Porque me Assustas

por MPS, em 09.08.14

Já passou algum tempo e por isso, para ser sincera, não posso jurar que a ideia que tenho tua é real. Provavelmente, a minha mente confunde-a, misturo pessoas e expressões, torno-te, sem querer, diferente do que és.

Do que me lembro mais nitidamente é do teu sorriso.

Houve uma altura em que ver-te sorrir me fazia sorrir. Qual silogismo. Se A sorri, B sorri. A sorri. Logo, B sorri.

Mas agora, irrita-me. Gosto tanto dele quanto o odeio.

Acredito, genuinamente, que não é verdadeiro.Tenho a sensação estranha que estás sempre a sorrir, sem motivo, e isso assusta-me. Parece que vives num mundo cor-de-rosa e perfeito... É o sorriso mais bonito que eu já vi na minha vida e, ainda assim, acho que é hipócrita. 

Dá-me vontade de te abanar e gritar “pára, pára de sorrir”, esse sorriso idiota, que vai do Porto até à lua (e volta, da lua ao Porto). É impossível alguém ter um sorriso assim tão grande.

 

És como o protagonista de um anúncio a uma pasta de dentes que eu não quero comprar.

 

Mas a minha perspetiva de beleza também mudou. Quando o teu sorriso me fascinava em vez de me causar desconforto, eu pensava de outa forma em relação ao que me ficava bem.

No nosso primeiro encontro, eu calcei as sapatilhas brancas, as calças de ganga escuras e a sweatshirt vermelha e grossa com carapuço. E eu achava que estava linda. Porque as calças eram de ganga, mas eram justas – e eu nunca usava calças justas! Era a peça de roupa mais feminina que eu tinha.

Eu achava que estava linda e que ias cair aos meus pés.

E caíste.

Mas, nessa altura, eu também achava o teu sorriso lindo e nada assustador. Shame on me.

publicado às 17:23


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